segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Antes que vire pó

Eu tenho um problema sério em "gastar" as coisas. Não dinheiro, infelizmente, que eu faço ir embora com a maior facilidade. Eu falo de coisas tipo sabonetinhos bonitos, perfumes, lápis novinhos, essas coisas. Eu sei, isso é feio, soa mesquinho. Mas é que me dá pena.

Lá por 2004 ou 2005, eu ganhei um estojinho de maquiagens da minha vó. Um estojinho mini, com três andares, a coisa mais fofa. Preciso destacar que se a coisa em questão é pequenina, mais pena ainda tenho em gastar. Fica pior ainda se ganhei de presente de alguém. O dito estojinho ficou guardado por anos dentro da caixa onde veio. De vez em quando eu abria ele, olhava e pensava: "Que fofo! Não vou gastar". E devolvia pra caixa.

Dia desses, me arrumando pra ir pro trabalho, notei que meu blush tinha acabado. Não quis apelar para a técnica que algumas mulheres fazem uso de apertar as bochechas feito aquelas tias velhas faziam conosco, até ficarem rosadinhas. Daí lembrei: o estojinho pequenino que a minha vó me deu! Tomei coragem e fui usá-lo pela primeira vez. Resultado, ele ficou guardado e fechado por tanto tempo, que as esponjas e os pincéis, ao menor toque, se desfizeram. Isso mesmo, viraram pó. E o estojinho não era de má qualidade.

Daí me dei conta que guardei por tanto tempo pra sempre ter ele, que quando resolvi aproveitar, não pude. Ou seja, de tanto receio de um dia não ter mais ele, acabei nunca tendo e sem jamais ter aproveitado. Me lembrei que às vezes falo pra minha psicóloga "daí eu perdi..." E ela me diz: "Como podes ter perdido algo que nunca tiveste?" E foi exatamente o caso do estojinho - que parece que estou fazendo muito caso com uma coisa tão pequena - mas que noto que eu e aposto que muitas pessoas fazem coisas desse tipo. Querem ver?

Que receio de ligar e dizer que ligou porque tinha saudade. Que pena de gastar esse sapato tão novinho me acabando na pista de dança. Que medo de dizer "tu é o amigo que eu mais adoro nesse mundo".  Não vou dizer que amo ele agora, é tão cedo, outra hora eu digo... E aí, um dia, não dá, é tarde demais, vira pó... bem como os pincéis do meu estojinho.