sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O presente que eu me dei

Hoje foi um dia feliz. Foi o último dia de aula do meu primeiro semestre no curso de Psicologia. Quando olho pra trás e vejo tudo o que aconteceu nestes últimos meses, me sinto grata por poder vivenciar todas essas coisas. Se lá em janeiro, enquanto eu tinha crises e chorava porque não queria mais levar adiante a profissão de jornalista, eu pudesse ver o quanto estou radiante neste fim de ano, a agonia teria sido menor.

Claro, as coisas não funcionam assim, eu não poderia saber como seria. Resolvi arriscar e, arriscando, descobri algo que me faz estar cada vez mais próxima de mim mesma. Estou imensamente feliz com tudo o que eu aprendi. Não sei nada e, no entanto, já sei tanta coisa que eu nem imaginava. Comecei a realizar um sonho antigo, o de poder trabalhar com crianças. Na última ocasião em que estive reunida com meus pequenos tenistas, recebi de presente de uma das crianças um desenho feito especialmente pra mim. Fiquei muito contente com a homenagem e contei pra minha psicóloga o quanto tinha me deixado feliz aquele presente. Foi então que ela me fez uma pergunta: Ficaste feliz só pelo presente que a menina te deu ou também pelo presente que estás te dando ao te permitir te aproximar do que te faz sentir mais completa?

Hoje sinto que estou sendo mais responsável comigo mesma, porque tenho me permitido acolher aquilo que me faz bem. O meu diploma de jornalista é algo do qual me orgulho muito, foi fruto de vários anos de estudo e trabalho. É uma profissão linda e essencial para a sociedade. E é mais um pedacinho dos muitos que formam a minha história e quem eu sou.

Conheci muitas pessoas legais nesta nova jornada; professores, colegas de aula e do Pet (minha primeira vivência prática da Psico). Aprendi muito sobre a psicologia,  e, talvez o principal é que aprendi com ela que por mais que se aprenda e se saiba, sempre se terá mais e mais pra aprender.

Eu tive muito medo. Não foi fácil admitir pra mim mesma que não tinha escolhido a profissão que me realizava. Mas querem saber? Estou extremamente feliz!







terça-feira, 26 de junho de 2012

Mudei de ideia




Uma pessoa que conheci há alguns anos atrás costumava dizer: “a única certeza da vida é que um dia tu vai mudar de ideia”. Eu duvidava. Mas mudei de ideia.

Tenho esse hábito de achar que tenho o poder de planejar passo a passo a minha vida, mas cada vez tenho me surpreendido mais em como ela muda de rumo. E não só porque alguma coisa externa atrapalha, mas porque eu mesma mudo de ideia. Gosto muito daquela música do Chico Buarque que diz: “A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar. Mas eis que chega a roda viva e carrega o destino prá lá ...” 

Eu (pensava que) sabia como seria meu próximo namorado. Uma noite, numa mesa de bar, cheguei a fazer uma brincadeira com a minha irmã; num papel uma tabela. De um lado, o que meu namorado podia ter/ser/fazer. Do outro, o que não podia de jeito nenhum. Dentre as obrigatoriedades, deveria estar formado. Mas não poderia se chamar Alexandre de jeito nenhum.

No fim das contas, não se chama Alexandre mesmo. Mas jamais constaria na minha tabela de possibilidades um vegetariano budista tatuado que toca violão. E universitário. Parece que mudei de ideia. E falando em universidade, eu, que me formei com 21 anos e tinha a mais absoluta certeza de que aos 23 seria mestre e aos 25 doutora com uma carreira sólida no jornalismo, aos 24 serei bixo de psicologia. Mais uma vez mudei de ideia. A delícia disso tudo é que no meio dessa troca de ideia cruzamos com gente muito legal pelo caminho, ouvimos novos sons, sentimos outros gostos, pisamos em outros solos.

O pessoal aqui de casa reclama que só toco músicas tristes no piano. Fazer o quê? Eu acho as músicas tristes as mais bonitas. Quem sabe um dia desses mudo de ideia e o povo aqui não acorda com uma bela marchinha de Carnaval?  

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Antes que vire pó

Eu tenho um problema sério em "gastar" as coisas. Não dinheiro, infelizmente, que eu faço ir embora com a maior facilidade. Eu falo de coisas tipo sabonetinhos bonitos, perfumes, lápis novinhos, essas coisas. Eu sei, isso é feio, soa mesquinho. Mas é que me dá pena.

Lá por 2004 ou 2005, eu ganhei um estojinho de maquiagens da minha vó. Um estojinho mini, com três andares, a coisa mais fofa. Preciso destacar que se a coisa em questão é pequenina, mais pena ainda tenho em gastar. Fica pior ainda se ganhei de presente de alguém. O dito estojinho ficou guardado por anos dentro da caixa onde veio. De vez em quando eu abria ele, olhava e pensava: "Que fofo! Não vou gastar". E devolvia pra caixa.

Dia desses, me arrumando pra ir pro trabalho, notei que meu blush tinha acabado. Não quis apelar para a técnica que algumas mulheres fazem uso de apertar as bochechas feito aquelas tias velhas faziam conosco, até ficarem rosadinhas. Daí lembrei: o estojinho pequenino que a minha vó me deu! Tomei coragem e fui usá-lo pela primeira vez. Resultado, ele ficou guardado e fechado por tanto tempo, que as esponjas e os pincéis, ao menor toque, se desfizeram. Isso mesmo, viraram pó. E o estojinho não era de má qualidade.

Daí me dei conta que guardei por tanto tempo pra sempre ter ele, que quando resolvi aproveitar, não pude. Ou seja, de tanto receio de um dia não ter mais ele, acabei nunca tendo e sem jamais ter aproveitado. Me lembrei que às vezes falo pra minha psicóloga "daí eu perdi..." E ela me diz: "Como podes ter perdido algo que nunca tiveste?" E foi exatamente o caso do estojinho - que parece que estou fazendo muito caso com uma coisa tão pequena - mas que noto que eu e aposto que muitas pessoas fazem coisas desse tipo. Querem ver?

Que receio de ligar e dizer que ligou porque tinha saudade. Que pena de gastar esse sapato tão novinho me acabando na pista de dança. Que medo de dizer "tu é o amigo que eu mais adoro nesse mundo".  Não vou dizer que amo ele agora, é tão cedo, outra hora eu digo... E aí, um dia, não dá, é tarde demais, vira pó... bem como os pincéis do meu estojinho.


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Dos pequenos prazeres

No domingo fui a uma festa de aniversário. Mas a comemoração tinha algo de incomum em relação às que costumo ir frequentemente: o aniversariante em questão estava completando 90 anos de idade. Na ocasião, minha vó quis fazer um pequeno discurso, seguido da declamação de um poema. Algumas pessoas disseram: "que que a tua vó sempre tem que falar alguma coisa nas festas?" Eu acho que ela deve fazer isso, e não só pelo aniversariante, mas porque isso faz ela feliz. Ela gosta de fazer agrados aos outros, não importa a quem seja. Esse é um pequeno prazer da vida dela.
 
Já viram o filme "O fabuloso destino de Amélie Poulain"? A protagonista tem algo de semelhante com todos nós: gosta de desfrutar de pequenos prazeres. Os dela, enfiar a mão num saco de grãos até o fundo, quebrar a crosta do delicioso crème brulée com a colher e atirar pedrinhas no Canal Saint Martin, tornam seu dia mais agradável. Todo mundo tem seus pequenos prazeres. Eu não falo de algo grandioso como ganhar a Mega Sena da virada sozinho ou encontrar o Paul McCartney andando na rua da minha casa. São aquelas coisinhas simples que acontecem todo o dia, num momento rápido, mas são responsáveis por um sorriso.

Tem gente que gosta de comer a raspadinha do bolo com o dedo, outros se deliciam em estourar plástico bolha, conheço gente que adora pisar naquelas folhas com sementinhas que estalam com o pisar, e eu aprecio muito usar meias novinhas. 
 
Eu sei que a minha vó adora agradar os outros. Faz parte da pessoa que ela é. E acredito que nossos pequenos prazeres dizem a respeito da pessoa que somos. Ninguém tem o direito de querer que ela pare com isso. É como se em nenhum bolo sobrasse raspadinha, se as bolhas já viessem furadas, as folhas não fizessem mais o estalinhos e toda meia que eu encontrasse na gaveta já estivesse velha.





quinta-feira, 18 de agosto de 2011

(muito) Bem acompanhada



Sempre tive um pouco de dificuldade em ficar sozinha. A minha casa usualmente está cheia de gente, dividi o meu quarto durante vários anos com a minha irmã mais velha e sempre tive uma porção de amigos. A solidão, pra mim, não era algo comum.

Quando essa minha irmã saiu de casa, fiquei com um quarto só meu pela primeira vez. E foi quando experimentei uma solidão gostosa. As minhas coisas, do meu jeito, no meu espaço. Uma das minhas melhoras amigas uma vez me disse que gosta muito de ir ao cinema sozinha, coisa que eu nunca fiz. Eu disse pra ela que as pessoas de certo ficavam olhando com pena, pensando que não tinha ninguém pra acompanhar aquela pobre criatura. Essa minha amiga, a Carol, me respondeu sorrindo: "Juju, o dia que tu souber aproveitar a tua companhia, tu nunca vai te sentir sozinha".

Isso faz uns anos já. E, na época, não fez sentido. Hoje, já começa a fazer. Não gosto, por exemplo, de sair pra almoçar sozinha. Acho chato, me dá vontade de falar, de pegar a batatinha do prato alheio. Mas confesso que ultimamente tenho experimentado pequenos prazeres ao estar sozinha. Dia desses fui num café, sentei, tomei um chocolate quente, li, fiz anotações e depois me encontrei com amigas. Pra minha surpresa, as duas partes do programa foram interessantes. Me senti bem por estar sentada ali, em minha própria companhia.

Uma vez na semana vou a pé pra aula de piano. Dá uns 30 minutos caminhando. Essa é uma atividade que eu aprecio muito fazer. De fones nos ouvidos, entre Beatles e peças de piano, chego na aula em minha própria companhia, e é uma das partes do dia que mais gosto. Num desses raros sábados com sol em Porto Alegre, fomos eu, minha bolsinha, os Beatles e as peças de piano darmos umas voltas sem nenhum rumo específico pelo bairro onde eu moro. Entrei em uma livraria, quis tudo e não levei nada, comprei presentes para pessoas queridas, entrei em ruas que nunca tinha passado antes e voltei pra casa. Sei que pra algumas pessoas isso é a coisa mais corriqueira do mundo, mas ficar sozinha, ou melhor, acompanhada de mim mesma, tem sido uma experiência nova e, por que não, prazerosa.

Ainda não tive coragem de me munir de pipocas e assistir a um filme no cinema sozinha. Mas estaria eu experimentando aquilo que a minha amiga Carol já descobriu há alguns anos?



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Baile de máscaras

Não faz muito tempo que comecei a sair de noite. Eu digo ir em festas, barzinhos, com mais frequência. Confesso que sou nova nessa "área". Tive um relacionamento longo que ocupou toda a minha adolescência e parte da minha vida de jovem adulta e também sou mais caseira.

Há alguns meses atrás, desde que entrei pro rol dos solteiros, conselhos não me faltaram. O que é engraçado, porque cada pessoa parece ter sua própria receita para ser feliz nos relacionamentos amorosos - ou bem longe deles. Se eu juntasse todas as dicas recebidas nesse tempo, poderia tranquilamente fazer um manual. Não estou reclamando, muitas foram úteis (outras, nem tanto) e sei que a quase totalidade delas foi bem intencionada.

A questão é que comecei a notar que existe uma espécie de código de conduta, que, honestamente, acho que não me encaixo. "Não senta assim, não faz essa cara, não responde a mensagem em seguida, não fica sem copo na mão". E foi isso, e não os conselhos, que me chamaram mais atenção, porque parece que existe uma ideia generalizada de que para fazermos sucesso por aí deve existir um jeito correto de se portar. Isso me faz lembrar o último post, em que eu escrevi como não é possível querer que as coisas saiam exatamente do jeito que planejamos.

Mas daí fico pensando que as pessoas que me atraem, não necessariamente estão se portando da "forma esperada". E da insegurança de caloura que não sabia o que fazer no meio da pista de dança, decidi que a melhor escolha era fazer aquilo que dava vontade mesmo. Assim, bem clichê.

Bom, essa é a minha receita para ser feliz nos relacionamentos amorosos - ou bem longe deles, mas principalmente comigo mesma. Vou com essa roupa porque tenho frio. Me deu vontade de responder a mensagem na mesma hora. Fico sentada porque não gosto dessa música. Não quero vodka, tem batata-frita? O resultado disso é que me divirto muito mais quando não tento seguir um manual. Se eu não ficar dentro do código... Bom, paciência. Não tenho como fingir. Até porque não estou num baile de máscaras. 

Expectativa X Frustração

Quarta-feira, que é o dia em que tenho terapia, normalmente vou pensando no caminho no que vou dizer, como vou dizer, o que será que vou ouvir. Obviamente nunca sai como o esperado e a conversa flui para outro caminho que eu nem supunha.

Curiosamente, foi um dos assuntos conversados hoje. Assim como eu, muita gente costuma ficar imaginando o que vai acontecer no futuro. Existem pessoas que inclusive fazem listinhas do que devem fazer durante o dia. Até pode ajudar a otimizar o tempo, mas pensar demais no que vem a seguir serve mais pra bagunçar a cabeça da gente do que pra qualquer outra coisa.

Eu explico. Quando alguma coisa está por acontecer, é normal que a gente fique tentando adivinhar como vai ser. Uma mãe que espera um bebê imagina como vai ser seu rosto, seu choro, seu sorriso. Um viajante se ocupa em pensar que paisagens vai ver, como vão ser as pessoas em seu destino. Isso tem a ver com sonhar.
O problema - e eu admito, um dos meus - é quando queremos que tudo saia timtim por timtim do jeito que imaginamos. É frustração na certa. Deve ser por isso que não costumo gostar de filmes feitos a partir de livros que li. Nunca ficam do mesmo jeito que estava desenhado na minha mente. Me sinto, de certa forma, enganada - "não era assim a cara do personagem principal. Não era assim a casa onde eles moravam - costumo pensar.

Não que eu esteja fazendo apologia à extinção dos sonhos. Longe disso. Mas, durante a nossa conversa, veio a frase que me fez pensar pelo resto da tarde "o tamanho da frustração é proporcional ao da expectativa". E não é que é verdade? Costumo querer encaixar tudo como pecinhas de quebra-cabeça e pensar que, se eu sair de casa tal hora, pegar tal condução, vou chegar lá em tantos minutos e então direi isso, isso e aquilo e o resultado vai ser esse. Que pretenção a minha! Posso afirmar com certeza que nunca nada saiu exatamente do jeito que eu planejei.


E, sentada ali na poltrona, na frente da minha psicóloga, eu disse "seria tão melhor se tivesse um livro que dissesse direitinho como as coisas vão acontecer no futuro". E ela, de olhos arregalados, me perguntou "Mas por que???" Sabem que ela tem razão? Que graça tem a vida se a gente não leva uns tropeços?