terça-feira, 23 de agosto de 2011

Dos pequenos prazeres

No domingo fui a uma festa de aniversário. Mas a comemoração tinha algo de incomum em relação às que costumo ir frequentemente: o aniversariante em questão estava completando 90 anos de idade. Na ocasião, minha vó quis fazer um pequeno discurso, seguido da declamação de um poema. Algumas pessoas disseram: "que que a tua vó sempre tem que falar alguma coisa nas festas?" Eu acho que ela deve fazer isso, e não só pelo aniversariante, mas porque isso faz ela feliz. Ela gosta de fazer agrados aos outros, não importa a quem seja. Esse é um pequeno prazer da vida dela.
 
Já viram o filme "O fabuloso destino de Amélie Poulain"? A protagonista tem algo de semelhante com todos nós: gosta de desfrutar de pequenos prazeres. Os dela, enfiar a mão num saco de grãos até o fundo, quebrar a crosta do delicioso crème brulée com a colher e atirar pedrinhas no Canal Saint Martin, tornam seu dia mais agradável. Todo mundo tem seus pequenos prazeres. Eu não falo de algo grandioso como ganhar a Mega Sena da virada sozinho ou encontrar o Paul McCartney andando na rua da minha casa. São aquelas coisinhas simples que acontecem todo o dia, num momento rápido, mas são responsáveis por um sorriso.

Tem gente que gosta de comer a raspadinha do bolo com o dedo, outros se deliciam em estourar plástico bolha, conheço gente que adora pisar naquelas folhas com sementinhas que estalam com o pisar, e eu aprecio muito usar meias novinhas. 
 
Eu sei que a minha vó adora agradar os outros. Faz parte da pessoa que ela é. E acredito que nossos pequenos prazeres dizem a respeito da pessoa que somos. Ninguém tem o direito de querer que ela pare com isso. É como se em nenhum bolo sobrasse raspadinha, se as bolhas já viessem furadas, as folhas não fizessem mais o estalinhos e toda meia que eu encontrasse na gaveta já estivesse velha.





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